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2020: que ano...



Enquanto fazia o planejamento de ações para 2020 o maior desafio era encaixar todas as viagens em um único ano que parecia pequeno, mesmo ainda antes de começar.


Havia planos de FAM trips, várias viagens internacionais e, também, claro, muitas outras pelo Brasil, além de diversas ações comerciais. O plano estava completo e promissor.


Mas, aquele vírus lá na China me preocupava. Notícias chegavam fragmentadas em novembro, dezembro e eram vagas, mas, já tiravam o meu sono.


Em janeiro fui para o tribunal ser jurada, isso me acontece às vezes. Enquanto esperava a hora do sorteio, olhava preocupada as notícias do vírus e pesquisava tudo sobre a doença: vacinas, medicamentos, falas de especialistas pelo mundo sobre aquele novo e misterioso vírus.


Não havia como prever que aquelas pesquisas dominariam a minha busca no Google por semanas a fio e que isso era só o início de uma longa jornada, incerta, porém, cheia de aprendizados. Para mim, era certo que, com o crescimento exponencial de casos, aquele cenário afetaria muito em breve o mundo das viagens, não se restringindo na Ásia.


Nossas estruturas se abalaram, algumas ruíram, muitas ganharam novos significados, melhores, outros perderam completamente a razão de existir. Questionamentos surgiram, além de reflexões sobre nossos padrões e desejos profissionais e pessoais.


Contratos com clientes entraram em pausa e outro rompido pela crise em decorrência da COVID-19. A minha empresa parecia um barco que entrou “à deriva”. O turismo nunca mais seria o mesmo, mas, ninguém sabia até quando e como seria esse novo cenário tomado por incertezas.


Fiz muitos trabalhos gratuitos para alguns dos meus clientes que enfrentavam provavelmente dilemas e incertezas ainda maiores, presos também em seus dramas políticos e econômicos, além de outros desafios. Um deles ainda teve que enfrentar um incêndio no seu escritório, sem feridos. Cada dia uma notícia mais desanimadora do que a outra surgia, não só para a gente, mas para eles também. Um sentimento de união ainda mais forte nasceu...


Embora com uma receita significativamente menor, tinha certeza que os planos de contratação de uma especialista em design gráfico e redes sociais deveria seguir. Assim foi que a DUO Network ganhou a sua segunda colaboradora fixa, também minha irmã, a Aline (em abril).


Nesse momento, a única certeza que eu tinha era que investir na imagem da empresa e nos treinamentos era o que deveria ser feito, por isso todo o suporte era bem-vindo. Tornar a DUO ainda mais conhecida, agregar um valor ainda mais significativo na vida do agente de viagens e dos meus clientes era um dos meus principais objetivos para que, no futuro, todos podemos sair mais fortes dessa situação.


Além disso, em setembro, a Virginia, uma grande amiga minha da época da USP, veio somar ao time no contato com fornecedores nos eventos virtuais.


Aqui, faço uma pausa e volto para aquele dia no tribunal. Não fui sorteada para ser jurada, mas o sorteio dos jurados somente é feito na presença do réu que entrou algemado, cabisbaixo. Era um homem negro, na faixa dos seus 40 anos.


Me senti mal, pois parecia um escravo a ser julgado por um monte de brancos. Sim, os jurados, em sua maioria, são brancos. Era como se ele já entrasse condenado naquela sala. Não sei qual o seu crime, porém, aquela cena ficou na minha cabeça, gravada como o espelho de um país tão complexo, repleto de atrasos e problemas em suas entranhas ainda muito longe de serem resolvidas.



Sempre quis abordar a face racista do nosso país, mas por vezes, nos afastamos de polêmicas. Porém, diante do movimento #BlackLivesMatter e da pausa dos negócios tradicionais, vi que era a hora de, no evento BRASIL UM NOVO OLHAR, a primeira edição do DUO connections (em agosto), colocar um capítulo falando do racismo na nossa atividade: como os negros ficam de fora do marketing turístico, raramente sendo vistos como consumidores, rotulados como exóticos, restringidos àqueles que servem os brancos e os turistas que vem de fora. No evento teve acadêmicos, ativistas, ambientalistas, especialistas em turismo sustentável e comunitário. Falamos de biomas esquecidos pela maioria dos agentes como a Amazônia e o Pantanal e diversos hotéis ecolodges, pequenos e familiares e que, em sua maioria, foram expositores convidados no evento. Além disso, diversos operadores e agentes nacionais também falaram no evento inspirando a todos como uma brisa em futuro possivelmente melhor.


Esse foi o primeiro de uma série de eventos da DUO. Partimos então, em setembro, para o ÁFRICA MATIZES, no qual trouxemos hotéis de alto padrão e pouco conhecidos no Brasil, além de roteiros afrocentrados e reflexões como o apagamento da cultura negra no Brasil. Na sequência, fizemos o ITÁLIA DOCE VIDA, em dezembro, e que tivemos alguns obstáculos. A data do evento coincidiu, temporalmente, entre a primeira e a segunda onda da pandemia na Itália; mudança de empresas parceiras, além de outros empecilhos que não nos pararam, seguimos em frente ainda mais fortes. Fechamos o ano ainda com o GEÓRGIA ENTRE 2 MUNDOS, também em dezembro (em um dia de imersão). Contamos com a presença da Caucasus Travel, empresa que representamos aqui no Brasil.